NÓS MATAMOS O TEMPO, MAS ELE NOS ENTERRA

quinta-feira, 19 de maio de 2011

CONFIDÊNCIA

Mais uma vez era dia de aula.
Como de costume, Simone havia acordado em cima da hora, e restava recolher seus materiais de cima da escrivaninha e sair em disparada, em direção a escola, onde fazia o ensino médio.
A única coisa que a animava era saber que encontraria seus amigos nada chatos, prontos para falar abobrinhas e rir de tudo e de nada.
Pisando na escola, Simone percebeu que seu relógio estava atrasado alguns vários minutos, e não havia quase ninguém no pátio. Não se conformava por ter feito tanto esforço por nada.
Caminhou em direção ao murinho da passarela, onde costumavam esperar tocar o sinal, todos os dias até tocar o sinal. Assim que virou o olhar para um de seus lados, avistou um de seus amigos. Cabisbaixo, quietinho, Michel ouvia qualquer coisa no fone de ouvido.
Ela se aproximou tranquilamente, tocando em seu braço:
=>Esta tudo em ordem? Você parece meio triste...
Concordando com que disse, levantou o olhar para a amiga e fitou-a um instante, pensando se deveria mesmo contar .
Imediatamente dirigiu o olhar mareado para a mão de Simone. Sentiu a confiança, a segurança que ela lhe passava.
Como era bom ter uma amiga assim, e sua experiência a mais, atribuída pela idade, fornecia conselhos mais maduros, mais calculados, mas se contasse o que lhe afligia, não poderia garantir o fim da conversa.
Percebendo que Michel hesitava, decidiu:
-Está bem, se não quiser contar, eu entendo.
-Não, espera... Eu vou contar... Pra você.
-Tem uma garota... -olhou para Simone com os olhos ainda molhados -...eu gosto muito dela faz tempo, mas ela não sabe...nesse fim de semana, fiquei longe dela, com saudades, e pensei em contar para ela, mas o medo de perder sua amizade é tão grande...
-Ah Michel, que bobo você, ela não deve ser tão má assim né?
-Eu não passo de um covarde... Fracote...
Simone tocou o rosto do amigo com leveza, erguendo o queixo dele para olhar em seus olhos, que agora não conseguiam mais segurar as lágrimas que corriam descontroladas em seu rosto pálido, contraído de tristeza.
-Posso dar um conselho?-perguntou ela, soltando o rosto do garoto.
-Tá certo... Eu já ouvi histórias como a sua, e se você provar a ela que a ama, pode acabar feliz. Sabe o que acho?
-Diga.
-Conta pra ela na cara dura, não mande alguém fazer isso por você.
Michel respirou fundo e seco, enxugou as lágrimas e pôs as cartas na mesa.
-Eu te amo.
-Eu também, meu amigo, você vai conseguir que ela entenda.
Simone abraçou o garoto, mas sentiu que era afastada.
-O que foi?
-Eu te amo. É você que amo, minha amiga.
Simone ficou calada. Não esperava por isso. Jamais imaginou que seu amigo a amava daquela forma.
Michel tomou as mãos de Simone entre as suas, olhou-a demoradamente nos olhos. Porque ela não reagia? O que estava acontecendo?
Decidido, ele aproximou-se dela, fechando os olhos, queria beijá-la.
A garota, revoltada, confusa, indecisa, retraiu-se.
-O que foi? Por favor... Oh... Perdoe-me, eu não devia ter feito isso...
E Simone, sem responder, nem sequer olhar para seu amigo, virou as costas e saiu caminhando.
Naquela hora, Michel não sabia o que fazer havia acabado de descobrir quem realmente era sua amiga?
Sem pensar, correu atrás dela, pegou em seu braço, fazendo-a se virar em sua direção.
-Simone não faça isso comigo, esqueça o que disse.
-Me solte, por favor. Eu pensei que fossemos amigos.
E desvencilhando-se das mãos dele, virou as costas novamente. Pretendia não mais olhar para ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário