NÓS MATAMOS O TEMPO, MAS ELE NOS ENTERRA

quinta-feira, 19 de maio de 2011

VISITA SURPRESA



Fim de semana já estava se aproximando. Estava difícil prestar atenção as aulas daquela sexta-feira. As palavras sobrevoavam com superfluosidade pelo ar, meus pensamentos encontravam-se em outro lugar.

Enfim algo me tirou daquele transe. Era o sinal tocando, avisando que chegava ao fim mais uma semana de aula. Antes de levantar-me da classe, senti uma estranha sensação percorrer meu corpo, era como se algo me dissesse que aquele fim de semana seria diferente, que me traria novidades.

Tentei ignorar aquilo, pois isso começava a me perturbar. A única coisa que mais queria fazer no momento era ir para casa, como se alguém me esperasse por lá.

Chegando em casa, de fato havia alguém a minha espera. Meu gato de estimação, todo preguiçoso, esticava as perninhas antes de vir até mim e enrolar-se entre meus pés, ronronando. Acariciei-o com alegria. Adorava sentir seus pelos macios entre meus dedos.

Fiquei atenta a qualquer novidade que condissesse com minha pressa de vir para casa. Estranha e notável era a maneira que minha mãe e meu irmão se comportavam comigo, silenciosos, pareciam medir qualquer movimento que davam meticulosos, prestavam atenção e cuidavam impecavelmente o que falavam.

Sem muita disposição, pensei em esquecer aquela impressão. Jantei e fui me preparar para dormir.

Deitada na cama revirava-me inúmeras vezes, não conseguindo acalmar-me. Por que aquilo me atormentava assim. Já estava acabando com minha paciência e eu precisava resolver aquilo. Minha cabeça povoava de mil histórias, mil possibilidades que poderiam corresponder isso tudo. Acabei sendo vencida pelo cansaço e apaguei sem perceber nada.



Uma luz forte e insuportável parecia iluminar meu quarto. Com a mínima disposição para acordar, virei-me e cobri a cabeça com o cobertor. Passaram-se alguns minutos e de repente, de la de fora da casa, ouvia-se alguns ruídos muito curiosos. Retirei o cobertor para ouvir melhor.

Era como se alguém arrastasse cadeiras pelo chão. Estreitei os olhos, imaginando o que poderia ser, e então ouvi algumas vozes cochichando qualquer coisa. Ignorei, não queria mais asber de nada. Aquela sensação do dia passado já não me incomodava mais.

O número de vozes começou a aumentar cada vez mais. Fosse o que fosse eu iria descobrir. Saltei da cama com disposição, troquei de roupa, arrumei os cabelos e fui até a porta do quarto, que dava logo na sala de visitas. Havia um falatório grande, várias pessoas estavam ali e eu não fui avisada de maneira alguma. O que estariam tramando para mim?

Assim que pus a mão no trinco e girei, fez-se um ruído e tudo cessou. O silêncio predominava a casa. Estava claro que era a ver comigo o que acontecia.

Sem mais nem longas, fui ter com todos que estavam ali.

Fiquei sem palavras diante da cena que presenciava. Havia uma reunião de amigos, todos meus grandes amigos estavam ali, diante de mim, em círculo, observando atentos como eu reagiria.

Não imaginava sequer algum motivo para eles estarem por lá. O que os traria aqui, nessa época do ano?

"E aí garota, não vai nos dar as boas vindas? '' Falou Dione, com seu sorriso meigo, indo a minha direção para beijar-me a face.

"E-eu não sei o que dizer" Respondi, fazendo cara de desentendida.

"Viemos para te fazer uma surpresa. Espero que você não se incomode se ficarmos para o almoço” Satirizou Cléres, ordenando que trouxessem algumas coisas básicas.

Com certo esforço, meus amigos Edu e Fábio, traziam um fardo de coca-cola, que levaram até a cozinha, orientados por minha mãe.

Eu olhava atônita para todos que estavam ali. Será que eu estava esquecendo de algo?

Foi então que Anielly dirigiu a palavra para mim:

"Sol, menina, você esqueceu-se de nossa reunião mensal de amigos, bobinha...” Depois disto, sorriu para mim, com o costumeiro ar melancólico que possui. Sorri de volta, sem graça, estava tão envolvida com meus desenhos e textos que não lembrava mais de nada direito.

"Desculpe pessoal... fico sem jeito... esqueci de vocês..."

Todos sorriram para mim, confortando-me e desculpando-me, mas foi aí que senti aquela sensação voltar, mas muito mais forte, parecendo me corroer até os ossos.

Olhei ao meu redor para tentar encontrar o motivo, mas não havia nada, ninguém diferente. Mas eu insistia que uma presença agora estava marcando.

Olhei ao meu redor, e um espaço se abriu na roda de amigos. Com passos calmos alguém diferente caminhou até o centro da roda, olhando em minha direção. Não o reconheci de imediato, pois usava uma cartola, que escondia seu rosto em parte, pois mantinha o olhar baixo, em mistério.

Esperei qualquer reação. Então, de forme calma e majestosa, tirou a cartola com a mão direito, revelando sua identidade, e curvando-se em reverência, cumprimentou:

“Bom dia cara amiga.”

“Jollyroger? O-o que faz aqui?... como é que...”

“Vim-lhe fazer uma visitinha, somente isso.” Respondeu com naturalidade, enquanto sorria.

Observei-o por alguns segundos. O que ele estaria fazendo por aqui, parado em minha frente, em meio aos meus amigos, tão longe de sua casa. Afinal, Rio de janeiro não era logo ali do lado.

“O que foi não me esperava, não é? pois bem, venha, quero lhe dar um abraço, venha!” Abriu os braços, esperando-me.

Não reagi. Fiquei observando a sua expressão. Parecia tranqüilo feliz em me ver, mas algo em mim me passava insegurança, pois eu não o conhecia totalmente.

Por fim, sorri e caminhei até ele, dando um apertado abraço, agora me sentindo menos acanhada. Jollyroger passou-me uma sensação de segurança, de que poderia confiar nele.

Desvencilhei-me de seus braços e assim, convidei a ele e a todos para entrar. Conversávamos alegres, os assuntos principais?Desenhos e cantores célebres como Michael Jackson, discutíamos sobre a sociedade e muito mais, mas da minha parte não havia muita concentração.

Eu observava Jollyroger atentamente, cada traço seu. Parecia ter saído de um filme em que todos os meus ídolos se resumiam em um só, sua forma de agir, falar, rir, era tudo admirável. Eu não o via como um amigo, ele para mim era um ídolo, quanto mais eu o observava, mais queria ser como ele.

As horas foram passando e os amigos indo embora, pois tinham outros compromissos. Sobraram só mais Vanessa e Jollyroger. Fitei-os e agradeci pelo dia feliz que me deram, abracei-os. Virei-me para Vanessa, que já ia sair, para dar um beijo em seu rosto. Ela sorriu e foi indo, quando ia ter com jollyroger, não havia mais ninguém por ali, estava sozinha. Assustada, olhei ao meu redor, mas não o encontrei. Como ele fora rápido para ir, nem ao menos se despedira.

Tentei compreende-lo. Olhei para o chão, e curiosamente, encontrei sua cartola, ao meu lado. Recolhi-a, com um sorriso. Guardei-a em meu quarto, como lembrança. Iria me servir de inspiração.

Um comentário:

  1. Querida, não tenho palavras para me expressar. Pelo menos não consigo imaginar as melhores e mais corretas palavras para agradecer pela... homenagem! Espero que um dia o relato do texto torne-se realidade. Enquanto isso... que continuemos nos inspirando mutuamente! Parabéns pelos textos e ilustrações menina esperta!

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